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Infantil-->JUNA E GABRIELA - As Contadoras de Histórias -- 25/02/2003 - 14:34 (joemil de sousa e cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JUNA E GABRIELA

As Contadoras de Histórias
(Cadê o seu barulhinho!?.)

Joemil de Sousa

Antes mesmo de dar bom dia
Gabriela já dizia:
-Tenho histórias pra contar!
Juna, sua irmã, que sempre a ouvia,
se preparava pra escutar.

- Hoje vou contar a história do Júlio.

Plact, Tum, Rafffft,
Tibum-Tum-Tum.
— Que barulho é esse aí!?
Plact, Tum Rafffft,
Tibum-Tum-Tum.
— Quem tá fazendo barulho!?
— É o Júlio! — alguém respondeu.
— Ô garoto barulhento,
que tanto que bate,
que tanto que rufa,
que tanto que bumba.
Que tormento!...
Ô Júlio, não faz barulho!

Mas ele não obedecia.
Fazia como quem não ouvia
e continuava
Plact, Tum Rafffft,
Tibum-Tum-Tum.
E não parava de jeito nenhum.

— Ô Júlio, não faz barulho!
Ô garoto barulhento.
Que tormento! — sua mãe se queixava.
Mas Júlio fingia que não ouvia e continuava:
Plact, Tum Rafffft,
Tibum-Tum-Tum.

Porém, de repente,
como o escapar de um raio veloz,
toda barulheira cessou,
calando também a sua voz.
Silêncio total.


Júlio queria falar,
gritar, como sempre gritava,
mas o berro não saía.
Tentava, tentava,
mas nada dizia.

Acostumado a produzir barulho,
sentia orgulho em incomodar.
Não que fosse por maldade,
mas por pura necessidade
de se mostrar.

Sempre fora desse jeito;
agitado, alegre, um tanto esperto,
zoando de quem estivesse por perto

Criava peripécias, embaraços,
verdadeiros estardalhaços,
de deixar, sem a menor cerimônia,
qualquer palhaço com vergonha.

Preocupado com a situação,
começou a reagir.
Arrastou a cadeira para outro lugar,
como fazia todo dia, sem o mínimo cuidado.
Aguçou os ouvidos para o resultado.
Nada.

Levantou-se. Pegou um copo e atirou-o
de encontro a vidraça da janela.
Num instante ficou diante
de milhares de caquinhos de vidro caídos.
Mas não ouviu nenhum ruído.

Não se conteve e com as mãos espalmadas
começou a batê-las:
Nada... nenhum som sequer.
Perto havia um pinico.— vazio é claro.
Correu e deu-lhe um bico,
com a ponta do pé.
O pinico rolou pelo chão,
bateu na parede, desceu por uma escada
e nada. Não fez um único barulhinho.

— Ô Júlio?! Ô Júlio?! — sua mãe chamou.
Ele ouviu mas não respondeu.
— Tá muito quieto! Das duas uma;
está dormindo ou não está por aqui.— comentou baixinho.
— Tô aqui! — respondeu num sussurro.
O mistério cresceu na cabeça de Júlio,
quando ela ouviu e completou:
— Vem depressa. A comida está pronta!

“Grande mistério, esse agora!
Logo eu , O Júlio, O Rei da Poluição Sonora,
silencioso como uma amora.”— pensou, deduzindo:

se todo mundo tem
e faz o seu próprio barulhinho:
fungando o nariz, pigarreando,
chupando dentes
ou soltando peidinhos indecentes.
“O que terá acontecido com o meu barulhinho?”


Correu pra comida. Desceu as escadas.
Pulou por sobre o pinico caído e amassado.
Pegou os talheres e como sempre fazia,
jogou-os em cima dos pratos,
pra fora da mesa e...surpresa. Barulho algum.
A mãe que sempre, de costas, reclamava,
não fez comentário nenhum.
Intrigou-se mais ainda.

Resolveu resolver.
E então, começou escrever de montão
Pedia ajuda aos amigos a fim de descobrir
onde o seu barulho fora parar.
A pergunta, uma só:
Meu barulhinho tá por aí?

Demorou, demorou e
a resposta, nada de voltar

Resolveu insistir
Cadê meu barulhinho?
“Por acaso ele passou por aí?”
A resposta, tão esperada
demorou, demorou e
... nada.

Com esmero,
resolveu escrever pro mundo inteiro;
em português, inglês,
russo, chinês e até em dinamarquês.
Para os cinco continentes ele tentou.
Escreveu em aramaico, sânscristo, esperanto,
escreveu tanto que pra seu espanto
ficou sabendo que apesar dos quatro cantos
o mundo, redondo como uma bola,
não tinha esse encanto,
e não fazia ecoar um barulho,
que só ele sabia aprontar.

O tempo passou e
ele ali continuou.
Procurou um jeito
de apenas gritar um ai!!,
um ui!!, um ohhhh!! ou qualquer coisa
que lhe fizesse não se sentir só.

Só queria a alegria de ouvir
um berro da sua própria voz.
Depois de alguns segundos,
percebeu que sua fala desaparecera.
Ficou mudo.
Experimentou naquela hora a agonia do silêncio

Preocupada,
a família o levou ao médico.
Fizeram uma série de exames
em busca das causas.
Era estranho e diferente
pois não havia motivo aparente.

Inconformado,
investigou e conheceu outras formas de expressão.
Linguagens de sinais; escritos, desenhados e gestuais.
Em todos sentiu a emoção de haver uma correspondência.
Uma perfeita comunicação.

Entretanto, uma coisa o entristecia.
Não conseguia fazer o que queria.
Não cantava, não falava
nem provocava nenhum ruído.
Nada do que fazia se ouvia.
Mas ele procurava persistente:
“Cadê meu barulhinho?”

Seus amigos de farra,
companheiros de algazarra,
afastaram-se e não lhe deram mais atenção.
Sentia, aflito, que havia
algo por demais esquisito
por detrás de sua conduta,
agora, comportada e silenciosa.
Não atormentava mais ninguém,
nem andava todo prosa.

Percebeu que assim agradava
a menina por quem tanto sonhava.
Ela correspondia, cordial.
Deu até pra descolar um papo legal,
todo escrito, gesticulado, pra lá de desenhado.
Uma maneira manera de dizer com emoção:
“Gosto de você, do fundo do coração.”

Mesmo assim, ficou agitado.
Até que um dia,
procurando por um brinquedo,
descobriu que havia guardado
no seu armário de rebuscados,
Trancado na caixa de segredos,
Por entre seus bonecos despencados,
seus atos mais sensatos e seus medos.

Ali estavam todos
como num álbum de retratos
Todos os seus medos, medo
de tudo que se podia imaginar:
de escuro, de pular, de gritar, de ficar mudo
de ver, de correr, de falar, de escrever,
de obedecer e até de se esconder.

Notou que alguma coisa tinha que fazer
pois o mais importante era vencer.

Remexeu no saco de trocados.
E expulsando tudo,
jogando-os para os lados, um a um
foram saindo, como em cascata caindo,
todos esses trecos, esses troços,
essas coisas, esses trens, essas tranqueiras e
todas as besteiras e todas as bobeiras.
Latas velhas, bumbos, tambores e cornetas
megafones, sinos e sinetas.
Tudo que havia recolhido
quando azucrinava o mundo inteiro
com o seu exagero.

Então, como mágica, encontrou.
O que seria?
Tão liso e tão polido,
desenhado no vidro.
Um presente de grego.
Como um castigo.
Com certeza, a beleza do sossego,
o carinho do afago e o doce do amargo.
Um espelho.

Pode ver nitidamente
na imagem do seu rosto, de frente,
o gosto de refletir,
e assim o fez pela primeira vez.

Logo depois, notou que havia
dentro dele,
construído no silêncio das vogais
e das consoantes,
muitas palavras, gestos e sentimentos
que o colocavam adiante
de todos os momentos.

primeiro veio o choro,
com muitas lágrimas derramadas,
depois, em meio ao som de uma gargalhada feliz,
a origem de uma voz, ainda virgem,
uma voz que não gritava, porém não se calava,
que falava, agitava e provocava a sua independência;
a chamada voz da consciência.

E agora, quando alguém grita,
trovejando palavras em alta voz
Júlio, sem medo, estende o dedo
e colocando-o sobre os lábios,
sussurra um provérbio sábio:
- Psiuuuu!!
O silêncio é a voz de ouro que o coração ouviu.


FIM


OBJETIVO:
Despertar o interesse para os temas relacionados a comuincação: poluição sonora, utilização das palavras (oralidade), tonalidade de voz, linguagem e sua importância e aplicação no comportamento social (exercício e respeito a cidadania em seu aspecto individual e coletivo).
Conscientizar o leitor para reflexão de seus atos com referência ao relacionamento social; e principalmente abrir considerações e discussões sobre a origem, interferências e administração do medo no seu desenvolvimento psico-social.

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